Os professores da Universidad Internacional Iberoamericana de Porto Rico (UNIB), Dr. Roberto Fabiano Fernandes e Viviane Brandão Miguez, realizaram junto com uma equipe de profissionais da Coordenadoria de Informações Estratégias do Estado de Santa Catarina (CIES), que forma parte da Controladoria Geral estadual, em Santa Catarina, no Brasil, de uma ferramenta para coleta de informação para a análise e tratamento de licitações e contratos.
Entrevistamos os professores e sua equipe para conhecer mais sobre a ferramenta e o que representa para a área de administração pública contar com serviços de análise de dados.
Poderia explicar mais sobre a ferramenta Coleta de Informações para Tratamento Inteligente e Análise (Cintia) que criaram para o acompanhamento das licitações e contratos do estado de Santa Catarina, para a Controladoria-Geral do Estado (CGE).
Antes de mais nada, quero evidenciar que o robô “Cintia” é resultado de um trabalho de uma equipe da Controladoria Geral do Estado de Santa Catarina, chamada CIES – Coordenadoria de Informações Estratégicas do Estado de Santa Catarina.
A CIES é composta pelos seguintes integrantes: Dr. Edson Rosa Gomes da Silva – coordenador, Gilmar de Morais – Auditor do Estado, MSc. Vander de Oliveira Veras – Assessor de Gabinete, atuando como gestor de Business Intelligence, MSc. Andrei Francisco Fernandes – responsável pelo setor de Gestão de Treinamento Institucional da CGE, Dr. Roberto Fabiano Fernandes e Dra. Viviane Brandão Miguez – Pesquisadores da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina, no projeto de mapeamento dos processos intensivos em conhecimento na CGE.
Como começou o trabalho?
Esse trabalho teve como origem a dissertação de Mestrado defendido pelo servidor público estadual Vander de Oliveira Veras em 2016 intitulada de “Cadastro de Informações Gerenciais (CIG) e processo de tomada de decisão no Governo do Estado de Santa Catarina”. A pesquisa foi orientada pelos professores Dr. Mário Cesar Barreto de Moraes e Dr. Nério Amboni, professores titulares da UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina.
Em 2012 e 2013, o Vander, na época trabalhando na casa civil do governo de Santa Catarina, participou da criação, customização e implantação do CIG, uma base de dados com todas as licitações e contratos estaduais. No entanto, apesar da riqueza de informações geradas, faltava ao CIG a integração a uma plataforma de Business Intelligence (BI).
Alguns anos se passaram e o antigo CIG tornou-se em um módulo do Sistema de Gestão Financeira do Estado (SIGEF). “Essa foi uma das propostas da dissertação: integrá-lo primeiro ao SIGEF, para dar confiabilidade aos dados financeiros, e posteriormente integrá-lo a uma plataforma de BI”.
Na CGE Vander apresentou a proposta para CIES, que virou o projeto de criação do Painel de Controle Organizacional Prévio para Análises Sistêmicas (COPAS), na plataforma de BI da CGE. Vander Veras atua na função Gestor de Análise de Dados, conduzindo os projetos na gestão do BI-CGE. “A partir da criação do Copas, foi possível fazer esse cruzamento prévio das licitações, que estão sendo analisadas pela Auditoria-Geral do Estado – um dos braços da CGE.
O que é a Coleta de Informações para Tratamento Inteligente e Análise (Cintia)?
O robô Cintia é um código desenvolvido na linguagem de programação Python e será empregado em várias ações de enriquecimento de informações e interação de dados no Sistema de Inteligência (BI-CGE). A criação do bot contou com a expertise da equipe da CIES.
O robô é um projeto interno da CIES/CGE que complementa o COPAS, coletando informações para o BI. O COPAS supri uma lacuna, que é o acompanhamento das licitações e contratos antes da publicação no Diário Oficial do Estado. O robô Cintia, por sua vez, realiza a coleta complementar de informações depois da publicação no Diário Oficial do Estado. Como o volume de informações é muito grande para ser conferido manualmente, o bot faz essa busca automaticamente, carregando os dados das publicações no painel do COPAS, podendo gerar, caso configurado, alertas no caso de alguma coisa não estar correta. É um volume enorme de informações, “impossíveis de serem analisadas manualmente pela equipe da Auditoria-Geral”, afirma o Controlador-Geral do Estado, Cristiano Socas da Silva.
Ressalta-se que o robô não substitui o auditor, mas permite maior agilidade, reduzindo esforços manuais e dirigindo as ações para as atividades de análise. “A tecnologia é muito importante nesse momento de aumento crescente no volume de trabalho da CGE” – Cristiano Socas da Silva.
Na opinião de vocês, qual a importância da transformação digital para o controle de gastos públicos e a gestão mesmo de órgãos públicos?
A transformação digital ocorrida nos últimos anos na administração pública se dá em virtude das práticas já consolidadas no mercado, com base nos fundamentos teóricos estudados na academia. Hoje, qualquer rotina de trabalho envolve algum sistema, seja este referente ao setor financeiro/contábil, recursos humanos, compras ou almoxarifado. A digitalização destes processos, além de propiciar maior celeridade e eficiência nas atividades diárias dos servidores públicos, vai ao encontro das boas práticas de gestão amparadas na Transparência, Governança e Integridade, Controle Social e Combate à Corrupção.
A partir da integração dos diversos sistemas de informação utilizados no Estado e do trabalho de análise/cruzamento dos dados, o processo decisório na gestão pública tende a se basear em aspectos mais técnicos e menos políticos. Por fim, as práticas relacionadas à transformação digital e o uso de novas tecnologias, torna-se de suma importância para o incremento das ações dos gestores quanto ao controle de gastos públicos, seja no momento de uma contratação ou na auditoria prévia por parte dos órgãos fiscalizadores.
De maneira geral, acreditam que há uma tendência de crescimento para a implementação deste tipo de ferramenta nos setores administrativos públicos?
Percebe-se um crescimento no uso das tecnologias da informação (TICS) como suporte a tomada de decisão em todos os setores, sejam eles público ou privado. Entende-se que isso se deve ao fato de que o emprego da tecnologia da informação não é mais setorizado, mas ele perpassa todas as áreas e é considerado um ativo onipresente em todas as organizações.
Entendemos que a evolução da Tecnologia da Informação a fez passar de um setor de suporte, isolado, a uma área estratégica, um dos protagonistas do sucesso das empresas. Podemos chamá-la de Tecnologia dos Negócios. Entendida dessa forma, sua atuação para ajuda na redução de custos operacionais, otimização de processos e, consequentemente, nos aumentos de produtividade e rentabilidade de todos os envolvidos nos resultados.
Para os profissionais interessados nesta área, que tipo de conhecimentos são necessários para a análise de dados e aplicação para a inteligência de negócios?
Os conhecimentos necessários são das mais variadas áreas possíveis, pois o desenvolvimento de aplicações tecnológicas para soluções que envolvam BI transpassa as áreas ligadas as tecnologias. Áreas ligadas as ciências humanas e sociais aplicada, que tenha domínio e conhecimento sobre projetos, processos e inovação, podem ajudar a desenvolver as competências dos profissionais que pretendem ingressar neste ramo de atividade, ou seja, desejam produzir conhecimento para auxiliar na tomada de decisão dos gestores nas empresas públicas ou privadas, que tenham interesse na inteligência de negócios.
A visão sobre a organização e o ramo de atividade é importante para conseguir entender os dados gerados pela organização, pois com base nos dados gerados se realizará o tratamento adequado dos dados para produzir os painéis com as informações e desenvolver os conhecimentos para tomada de decisão dos gestores da instituição.
Assim, percebe-se que a multidisciplinariedade pode ajudar no processo de emprego adequado dos profissionais na instituição e gerar o diferencial necessário para desenvolver as aplicações para a inteligência de negócios.
Os professores Dr. Roberto Fabiano Fernandes e Viviane Brandão Miguez fazem parte da rede universitária da qual a FUNIBER participa, como professores do Mestrado em Transformação Digital e do Mestrado em Ciência de Dados aplicada a Business Intelligence.