Mayra Martell é membro do Júri Honorário do Concurso Internacional de Fotografia PHotoFUNIBER’25 e fotógrafa documentarista. Suas fotografias receberam reconhecimento internacional, principalmente pelos livros de fotografia que publicou.
Entre os temas abordados, ela trabalhou principalmente em regiões da América Latina sobre desaparecimentos forçados, bem como sobre feminicídio, migração e tráfico de drogas. Todos os seus projetos estão ligados ao ativismo social.
Atualmente, ela trabalha na fronteira entre os EUA e o México na área de educação, criando laboratórios audiovisuais para adolescentes que vivem nesta área onde a violência devastou toda a comunidade.
Leia a seguir a entrevista com Mayra Martell:
Na sua opinião, o que é uma “boa fotografia”?
Bem, acho que para mim é uma imagem que me faz sentir algo, uma motivação. Acho que uma fotografia é poderosa quando ela consegue te tirar do seu mundo e tem a magia de te transportar para aquele momento, para aquele sentimento evocado na imagem. Claro, isso tem muito a ver com o interior das pessoas e com as conexões emocionais conscientes ou inconscientes do espectador. Bem, no final, é isso que a arte pretende fazer: tirar você da sua realidade para fazer você explorar de outro lugar, de outro tempo.
Conte-nos sobre algum trabalho recente que você fez ou está fazendo e os desafios que você encontrou ao desenvolver este projeto.
O último projeto em que estou envolvido é um chamado Origen, que busca me reconectar com a vida. Cobri desaparecimentos de mulheres e feminicídios por 20 anos, e meu coração estava cheio de morte. Esta foi uma jornada emocional com a necessidade de se reconectar com a sabedoria ancestral. O projeto começou com o povo Comcácc, que são nativos americanos. Aqui comecei a documentar suas tradições por meio de suas canções, que explicam tudo, desde o início do mundo até sua relação com a natureza.
A segunda investigação que desenvolvi dentro do projeto Origen é a da Afrocuba. Onde documento a resistência pela identidade afrodescendente na ilha por meio de mulheres líderes sociais que fizeram a diferença no aprendizado cubano. São mulheres que lutaram para que os afrodescendentes se conectassem com suas raízes e se orgulhassem de quem são.
Como você vê a fotografia documental hoje?
Bom, eu acho que é muito poderoso por causa do acesso que as pessoas podem ter nas redes sociais. As reclamações feitas não se limitam mais aos fotógrafos profissionais; a sociedade como um todo encontrou nas imagens e no vídeo o poder de apontar situações com as quais discorda, gerando mudanças sociais importantes.
Trabalha com educação por meio de laboratórios audiovisuais para adolescentes. Qual a importância do treinamento visual na sua opinião?
Para mim, a formação visual e a denúncia gerada pelo personagem principal são muito importantes, como sempre disse. Nunca serei capaz de saber 100% o que as pessoas sentem. Foi por isso que comecei esses laboratórios em Anapra, que é uma área muito complexa, pois fica perto do muro com os Estados Unidos e é o lugar com o maior número de mulheres desaparecidas e feminicídios registrados em Ciudad Juárez. Foi muito importante para mim ouvir esses jovens que estão na linha de fogo todos os dias, pois são o principal alvo do crime organizado. Quando os ouvi, entendi que era importante que eles fossem educados visualmente porque a denúncia que eles fazem é mil vezes mais poderosa do que qualquer pessoa fora deste lugar.
Além disso, é importante educar, porque faz parte do amor e da construção social da qual quero fazer parte.
Este ano, o Concurso Internacional de Fotografia PHotoFUNIBER espera receber fotos sobre o tema “educação”. Que narrativas você gostaria de ver sobre esse tópico que considera interessantes e atuais?
Bom, estou animado porque sei que vou conhecer muitos lugares e muitas propostas. Acredito que cada imagem será uma janela para o mundo dos participantes. Gostaria de ver propostas honestas, que venham do coração e nos levem a um lugar emocional que nos permita contemplar a importância de educar, de construir, de crescer juntos.
Descubra o trabalho de Mayra Martel em seu site ou em sua conta do Instagram: @mayra.martell